Cidade planejada de republicanos sonhos
Que a Monarquia sepultaram em cova rasa
Como o atestam os olhares tristonhos
Do busto de Pedro diante da Casa
Da tarde, quase uma hora
Raios fortes sobre o asfalto
O sol a pino chora
E do desencanto vira arauto
Quente, muito quente
Brasa, cinzeiro, lava
Chamusca o sol no horizonte
Secura, cansaço, falta d’água
Despede-te de tuas quimeras, rapaz!
Foram-se todas embora
A neve, que em nossa janela caía assaz
Amacia lábios que te bendisseram outrora
E aqui o cerrado
Como Roma na Europa de Dante
Como Moscou nos anos 50
O palácio do Azul Mirante
É aquele que te orienta
Não sonhe, não ouse, não voe
Sem antes consultar o Azul Mirante
Não sorria, não ame, não louve
Sem ordens do palácio distante
A tarde segue incessante, traiçoeira
Chicote de fogo a nos queimar a rabeira
É a hora terceira, o relógio anuncia
Triunfa a barbárie! O amor silencia
Calçada quebrada, rachada de sol
Asfalto impávido, bonito e formoso
Cai sobre os carros macio lençol
E sobre os pedestres, roldão furioso
Edifícios, concreto, vidro espelhado
Refletem a imagem de moça e curral
Quem ousa espiar fica envergonhado
Pois vê apenas sua cara de pau
Um shopping center desponta ao longe
Oásis de ar-condicionado
Miríade de sonhos e oportunidades em aberto
Alívio imediato a quem vem cansado
Triste cilada a quem se sente incompleto
Non plus ultra, fim da História
Não há mais para onde ir
Só no Mirante Azul há vitória
Sê sempre fiel, sem transgredir
Já passa das quatro
Grito! Ouço um grito... Sarcástico e irônico
Berros de arranhar a garganta
Olhar tímido, medo crônico
Tomba-me a cabeça, não mais se levanta
Erguida em nome da res publica
Que o Império abalou de um golpe certeiro
De Cícero a Franklin se lamenta e suplica
Pois aqui a Ideia encontrou seu coveiro.
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