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segunda-feira, 6 de julho de 2009

A saga de N.

Na semana de seu vigésimo primeiro aniversário, N. se deparou com um fato aterrador: ele não sabia aproveitar a vida. Tantos anos, tantos dias, tanto tempo, tudo passado em branco, batido, como uma folha de papel na qual nunca nenhuma caneta ousou se aventurar.

Horrorizado com sua constatação, N. resolveu agir: pegou uma caneta e um caderno e trancou-se em seu quarto com a missão de não sair de lá até que houvesse elaborado uma estratégia eficaz para aproveitar a vida. N. não queria passar os próximos anos de sua existência da mesma maneira que passara os últimos 21: apático, indiferente, incapaz de viver intensamente cada momento.

Durante esses sete dias trancado N. estipulou um plano de metas: viagens a fazer, festas a frequentar, amigos a conhecer, restaurantes a degustar, filmes a assistir, amores a declarar... Já estava cansado de levar sua vida como se ele ainda tivesse muitas outras pela frente e pudesse se dar ao luxo de viver de forma medíocre.

Após muitas noites em claro, N. concluiu o trabalho na manhã do seu aniversário. Estava exausto, mas todos aqueles dias de reclusão valeram a pena: finalmente ele poderia viver sem medo de repetir os erros do passado. Seu plano de metas ficara impecável, e ele estava decidido a aproveitar a vida.

Feliz, N. saiu de sua casa naquela manhã ensolarada para encontrar os amigos e dar início à sua nova vida. Tão logo botou os pés na rua, foi atropelado por um caminhão de engradados de cerveja, vindo a falecer alguns minutos depois a poucos passos do meio-fio. O motorista do caminhão seguiu seu caminho sem prestar socorro. Estava muito atrasado para entregar uma encomenda na casa da mãe de N., que lhe preparava uma festa surpresa.