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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

18 de fevereiro!

Ontem descobri que odeio o passado. Descobri que tenho aversão a anúncios de eventos que já ocorreram, calendários desatualizados, jornais velhos que noticiam fatos já ocorridos como prestes a ocorrer e tudo mais que seja impregnado de algum teor pretérito, que não tenha qualquer importância para o dia de hoje. Tanto é que, ao reparar que na minha geladeira havia um calendário-ímã parado no mês de março de 2007, eu tremi. Aquele tremor que se sente sempre que estamos diante de algo que, temos certeza, não podemos recuperar. Até pensei em joga-lo fora hoje de manhã logo que acordei, mas relutei. Ou melhor, esqueci.

O que foi que aconteceu de tão bom em março de 2007, que pudesse despertar em mim qualquer tipo de saudosismo ou nostalgia? Certamente nada. Mas é o simples fato de saber que aquele tempo jamais voltará (exceto no calendário de algum desavisado que esqueceu de atualizá-lo) o que me faz supervalorizar suas boas memórias e ignorar as ruins, como se essas últimas fossem rebento unicamente do agora.

Certa vez meu avô escreveu, em um de seus poemas, que não gostava do passado, por ele ser recheado de boas lembranças. Uma pena eu ter captado o sentido dessa frase tão tardiamente, a ponto de já não ser mais possível parabenizá-lo pessoalmente. O máximo que posso fazer é exaltar o agora, e que melhor maneira de fazê-lo do que intitulando meu texto com o seu nome!

Hoje é dia 18 de fevereiro, e aparentemente nada de especial ocorrerá. Exalto-o pela pura certeza de que, em algum lugar no futuro ele será valioso.

Ultimamente, meu passatempo preferido tem sido contemplar o calendário focando-me no quadrinho que representa o dia de hoje. É um ótimo entretenimento para aqueles que, como eu, só conseguem ver a beleza de uma data como esperança futura ou nostalgia. O presente - já diz o nome - é, pra essas pessoas, uma dádiva, mas uma dádiva que nos recusamos a aceitar, seja porque pensamos que antes eles eram mais formosos, seja porque esperamos que no futuro eles serão melhores.

Enquanto matutava sobre aquelas questões relativas ao tempo, lembrei-me de uma das lições que a igreja me dava e as quais nunca consegui entender bem: ao mesmo tempo que éramos instruídos a viver o agora ("o pão nosso (...) nos dai hoje), tínhamos que atentar para a vinda do Messias no futuro.

Mais do que isso: lembrei da conversa que tive com um certo amigo meu que dizia que, ao longo de nossa vida, éramos observados pelos anjos a fim de que avaliassem se poderíamos ou não ir para o céu. Sendo assim, a cada ação ruim que fazíamos, uma ação boa seria anulada. Só então percebi a profundidade da coisa: um erro anula um acerto? Por Deus! É o CESPE-UnB quem elabora as provas de admissão para o céu!

Desde aquele dia, passei a agir com muita cautela. Enquanto acreditei na veracidade de tal relato, me tornei cada vez mais assíduo na casa do Senhor, afinal de contas, se o céu só admitia concursados, a igreja seria, de longe, o melhor curso preparatório.

Deixando um pouco de lado esse papo de tempo - mesmo que temporariamente -, só tenho a dizer que, passatempo melhor que o do calendário é só aquele de ficar plantado na sacada do prédio, no domingo à noite, esperando as pernas se cansarem e o sono chegar. É de lá de cima que contemplo a cidade e, antes de receber o sono esperado, só recebo inspiração pra escrever, o que só me agita e torna a espera pelo sono ainda mais demorada.

Quando era moleque e quase não conseguia ver direito sobre a grade da sacada, minha maior satisfação era esperar o ônibus que ia para o Sol Nascente passar. Tão logo ele passava, eu entrava novamente, mas não sem antes admira-lo, como um fenômeno que só ocorre no dia 29 de fevereiro, ou um cometa que rasga o céu brevemente e só reaparece para os nossos bisnetos verem.

Muitos anos depois, só o que eu vejo daquela minúscula varanda é a festa de 15 anos da noite anterior; quer dizer, seus resquícios: cadeiras jogadas, mesas abandonadas, uma ou outra sujeira no chão... Enfim, nada que lembre a inebriante agitação que tirou o meu sono no meio da madrugada. Assim como o mês de março de 2007 do meu calendário, aquela festa não volta mais...

Só a título de conclusão: hoje são 18 de fevereiro de 2008, o dia mais especial e notável da história até agora, unicamente porque só ele é o agora. Ele não morreu como muitos, e também não é um embrião como tantos outros. 18 de fevereiro de 2008!