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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O céu é azul

Era uma vez, em um lugar muito distante, um pequeno vilarejo encravado no meio das montanhas. Todos viviam felizes e em paz entre si, sem guerras, sem atritos; a comunidade produzia todo o necessário para sua subsistência. Havia poucas leis, pois não eram necessárias, e as poucas que existiam eram rigorosamente cumpridas. Portanto, nem ao menos um tribunal era necessário.

Existia, porém, um tabu: ninguém podia dizer que o céu era azul. Por mais que o céu fosse azul e que todos soubessem que ele era azul, era terminantemente proibido dizê-lo em público e mesmo dentro de casa. Nem mesmo o casal mais íntimo ou os amigos mais próximos ousavam dizer, em uma conversa privada, que o céu era azul. E de fato, nunca, ao longo da milenar história do vilarejo, alguém havia ousado afirmar tamanha barbaridade. Todas as manhãs o céu se estendia como um tapete acima das montanhas e do vilarejo, em uma extensão a se perder de vista, em um azul forte e deslumbrante. Porém, cada um sabia, no seu âmago, que o céu era azul, e isso era mais do que o suficiente.

Em uma manhã de verão um morador abriu a janela de sua casa e, olhando para cima, declarou: "o céu é azul!".
Num piscar de olhos, toda a comunidade parou o que fazia para linchá-lo. O jovem rapaz morreu em menos de meio-minuto, seu corpo foi atirado no rio para que a correnteza o levasse e jamais voltasse. Sua família foi expulsa do vilarejo e sua casa destruída; nunca mais se falou dele. Depois desse breve interregno, a comunidade voltou a viver em paz e nunca mais foi assolada por moradores que ousassem subverter o tabu.

E o céu permaneceu azul.