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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Notas da Nova Jerusalém

Muitos jovens que ingressam nas concorridas instituições públicas de ensino superior do país, entram nesse ambiente imbuídos de um orgulho excessivo e, por vezes, caricato. Satisfeitos com a vitória alcançada, nossos novos universitários experimentam uma fase de êxtase, e sentem-se os verdadeiros escolhidos de Deus cada vez que enchem o peito para falar que estudam "na federal".

O jovem universitário se denomina um orgulhoso membro da "elite intelectual do país" – uma entidade mítica, lendária, que só existe dentro de sua cabeça. Ele venceu uma concorrência impiedosa, desbancou adversários e superou o horror de uma das fases mais lamentáveis de nossa vida; enfim, derrotou muitos mares vermelhos para chegar nessa terra prometida à qual poucos têm acesso. E a forma que ele adota para comemorar essa vitória costuma ser peculiar.
Tão logo começam as aulas, ele se converte em um ser esnobe, cheio de si: satiriza aqueles que não passaram classificando-os de "burros" ou "incapazes" e participa de comunidades no Orkut cujo intuito é justamente reunir esses bravos herois que passaram "na federal" em um local onde eles possam cantar toda a sua virtude e majestade.

Sim, a universidade virou objeto de ostentação! Estudar "na federal" dá status entre os amigos. "A federal" é envolta por todo um glamour, toda uma mística que se expressa nos novos e débeis hábitos que o estudante adquire.Esse universitário compraz-se não tanto em ter passado, mas em ter deixado vários outros de fora. Sua atitude reflete uma noção cara à nossa sociedade: só podemos triunfar se alguém definha. Mas afinal, não é a educação um problema social tal como a moradia e a saúde? O estudante que não conseguiu entrar na universidade pública está também sendo privado de seus direitos, tal como uma pessoa que vive na favela ou que não consegue ser atendida no hospital. Frente a esse problema, qual é a solução que nosso universitário - o futuro da nação - encontra? Debochar dos "incapazes", é claro! É muito mais fácil e muito mais divertido do que buscar soluções eficazes. Além do mais, ele já gastou neurônios o suficiente para passar no vestibular; merece, portanto, ter seu descanso intelectual.

E os vis mortais que não passaram no vestibular? Eles que rezem para que, no meio de tantos escolhidos de Deus que habitam essa cidade sagrada - essa Nova Jerusalém chamada universidade pública, - no meio de tantas mentes capazes, possa surgir o novo Messias. E que, tal como Jesus estendeu a salvação para além do povo judeu, ele estenda a universidade pública para além dos escolhidos pelo dedo do vestibular.